quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Harvest de Neil Young

Neil Young é sem duvidas um dos grandes nomes do Rock N’ Roll e o maior do Rock Canadense, que nos últimos anos tem chamado cada vez mais atenção dos críticos devido às novas bandas provindas do cenário independente de caráter experimental. Ta certo que chamar Neil Young de “Rock Canadense” pode soar bizarro, tendo em vista que suas composições quase sempre tiveram como foco o já bastante conhecido cenário estadunidense, sendo um dos mais habilidosos rockeiros em retratar a epopéia norte-americana e talvez um dos poucos a rivalizar com Bob Dylan nesse aspecto. Fora que a sua mais famosa composição fora da temática dos EUA tratava da devastação empreendida pelos colonizadores espanhóis contra o povo asteca. Pois é, mesmo que pudéssemos chamá-lo de “Rockeiro canadense”, não há duvidas que sua ligação com a terra natal seja pífia.



E quer saber mais, graças a Deus que seja assim. Pois duvido muito que a velha comodidade canadense fosse capaz de gerar uma obra tão forte e crítica como é a de Neil Young. Harvard, seu álbum mais conhecido, é um bom reflexo da compatibilidade de Young com a velha terra do Tio Sam.

Já na primeira faixa do álbum, "Out on the Weekend", Neil deixa bem clara sua influencia do folk norte-americano, com algumas pitadas de country na composição e letra bucólica, chegando a lembrar bastante o Dylan de “Blood on the Tracks”.

A segunda faixa, que dá nome ao álbum, é tornada mais acentuada a influencia da música Country, mantendo a ambientação bucólica.

É em “A Man Needs a Maid” que Young adentra no quesito musical em que costuma deixar a desejar em comparação com as faixas inspiradas no cancioneiro popular norte-americano: o Rock orquestrado. Substituindo o violão pelo piano, utilizando-se de orquestras como apoio e de um verso pautado no romântico, Young obtém resultados que beiram a cafonice, como no refrão. O Rock orquestrado voltará a figurar em outra faixa do álbum.

Felizmente, a faixa seguinte é um verdadeiro presente ao ouvinte, onde retoma novamente a influencia do cancioneiro popular. “Heart of Gold” é uma das melhores faixas já gravadas por Young, podendo facilmente figurar no panteão de músicas como “Ohio” e “Cortez The Killer”. Iniciada com um excelente arranjo de violão seguido por uma gaita no estilo folk, Yong versa de forma abstrata mostrando que é sem duvida um dos mais competentes letristas do Rock. Destaque também para o uso de backing vocals no final da música.

AreYou Read For The Country já segue uma atmosfera que remete a música de cabaré, com pitadas de solos de Blues colorindo a música, que parece ser extraída de “Exile of the Main Saint” dos Rolling Stones.

“Old Man” é a outra grande composição do álbum. Possuidora de uma letra belíssima onde um jovem, provavelmente Young, vê semelhanças entre sua vida e a de um velho afirmando que as situações em que passa atualmente já foram protagonizadas pelo idoso (“Old Man Take a Look at My Life/ I’m a Lot like You Were/Twenty four and there's so much more/Live alone in a paradise/That makes me think of two”), os versos contidos na música demonstram a verve poética de Young. Destaque para a habilidade no violão de Young, capaz de criar arranjos complexos com o instrumento com base no Folk americano, o que lembra bastante “Ohio”.

E depois dessa sensacional faixa, Young derrapa de novo no Rock orquestrado com “There’s a Word”. Mais tensa que “A Man Needs a Maid”, Young tenta sem sucesso dar um toque de influencia da música clássica pra sua música. Pior, parece que as líricas de alta qualidade que vemos nas composições inspiradas na música popular norte-americana se esvaem para dar lugar a uma letra que parece ter saído de um livro bizarro de auto-ajuda.

Faixa mais roqueira do disco, “Alabama” tem Young deixando de lado o velho violão e é introduzida com um solo de guitarra áspero, a voz de Young que canta de forma mais suave do que a conferida no Disco, mas que conforme o andar da música até o refrão tende a aumentar a tensão, com o auxilio de backing vocals.

Depois de um momento rockeiro, Young volta para a velha temática Folk-Rock em “The Needle and The Damage Done”, faixa em homenagem ao amigo e líder da banda Crazy Horse Bruce Barry que era viciado em heroína. Na faixa Young narra, melancolicamente os problemas causados pelo vicio do amigo.

A faixa final, “Words (between the lines of age)”, Young busca influência no Rock progressivo, onde se da um pouco melhor do que no Rock orquestrado devido as improvisações e a lírica também melhora em relação às verificadas nas faixas orquestradas. Porém, a música, em especial o jeito de cantar de Young para essa música podem soar meio cafonas aos ouvidos do ouvinte.

Young demonstra em “Harvest” que sua especialidade é o Rock influenciado pelo cancioneiro popular americano como o country, o folk e um pouco de Blues. Quando tenta buscar influencias em estilos musicais dos quais não tem uma grande ligação, como a música clássica, cai na mediocridade, sendo que, em efeito de comparação, Young ainda deve muito a grandes “alquimistas” da música popular, como Paul McCartney, Brian Wilson ou até mesmo Bob Dylan, para fundir influencias diversas a sua música. O que não significa que faz feio neste álbum, seu mais consagrado, diga-se de passagem, onde demonstra ser um grande instrumentista, principalmente em termos de arranjos para o violão, e um letrista excepcional, dos melhores que o Rock N’ Roll já teve.

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